Grandes redes correm atrás do aumento da renda dos pequenos e médios municípios
Os 70 mil moradores de Santo Antônio do Descoberto, cidade goiana na divisa com o Distrito Federal, viram o centro comercial aumentar em ritmo acelerado no último ano. Na praça central, onde charretes se misturam ao cenário das fachadas de lojas locais, há cada vez mais destaque para as recém-chegadas franquias de redes nacionais.
Neste ano, 533 lojas foram abertas na cidade. Em 2013, chegaram franquias da loja de chocolates Cacau Show e das lanchonetes Subway e Giraffas. Se antes não estavam no foco dos empresários, cidades como Santo Antônio passaram a receber atenção redobrada. Municípios com menos de 100 mil habitantes entraram nos planos das redes nacionais.
Os grandes franqueadores correm atrás do aumento da renda nesses locais e os empresários argumentam que, fora dos grandes centros, a concorrência do lojista é menor e a chamada fidelização, maior.
O presidente do conselho executivo da Máquina de Vendas Brasil, Luiz Carlos Batista, diz que a holding, que controla as lojas Insinuante, Ricardo Eletro, Eletro Shopping, City Lar e Salfer, está presente em municípios a partir de 50 mil habitantes. “Existe uma classe C que, inegavelmente, está aí. São 40 milhões de pessoas, do tamanho de países como a Argentina, a Espanha, e que estão aí para consumir”. O grupo tem hoje 1.050 lojas em todo o País, incluindo uma em Santo Antônio.
Fenômeno. No mesmo tom, Deusmar Queirós, fundador e presidente da rede de farmácias Pague Menos, explica o fenômeno: “Nós não abríamos lojas em cidades com menos de 100 mil habitantes. Hoje, já abrimos em cidades com 60 mil.”
Com 720 lojas da mesma bandeira em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal, Queirós é o dono da maior empresa varejista em ponto de vendas no País, segundo dados da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).
O empresário argumenta que, por trás do investimento dos varejistas fora dos grandes centros, está o aumento do poder de consumo do brasileiro nos últimos anos. “Tem Bolsa Família, Bolsa Escola, bolsa qualquer coisa. Isso criou um poder aquisitivo.”
Para os pequenos empreendedores locais, a corrida ao interior é alimentada pela possibilidade de maior margem de lucro. Há um ano, Augusto Ferreira e dois sócios, moradores de Brasília, escolheram Santo Antônio para abrir uma franquia da Subway. Viram o faturamento da loja superar as expectativas. “Em cidade grande, o aluguel e a contratação de funcionários são bem maiores”, diz Ferreira. Seus sócios têm outra franquia da mesma rede no DF: “O que nos atraiu aqui foi ver a falta de opção da população, que, às vezes, ia para uma cidade vizinha para lanchar.”
Interior. O gerente da Ricardo Eletro de Santo Antônio do Descoberto, Rogério Ribeiro, diz que, embora pesquisem os preços em Brasília, os clientes dão preferência ao comércio da cidade. O faturamento da loja cresceu 12% no ano passado e outros 7% até setembro.
A diferença, explica, se deve ao volume de compras do programa Minha Casa Melhor, a linha de crédito subsidiado que financia a compra de móveis, aparelhos eletrodomésticos e eletroeletrônicos pelos mutuários do Minha Casa Minha Vida. “Os clientes vêm aqui primeiro para pesquisar preço, vão a Brasília e voltam para comprar aqui porque encontram as mesmas condições.”
A prefeitura da cidade atribui o movimento de chegada das franquias nacionais à percepção do potencial de consumo dos moradores. Uma pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), ampliada para os municípios da região do entorno da capital, mostra que 42% da população de Santo Antônio recebe entre dois e cinco salários mínimos – outros 37% ganham até dois salários. A renda individual média do responsável pelo domicílio é de R$ 855 mensais, segundo a Pesquisa Metropolitana por Amostra de Domicílios urbanos de 2013.
O presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Júnior, afirma que é a disputa dos grandes varejistas por mercado que os leva ao interior.
Fonte: economia.estadao.com.br – 13/10/14