SPED – Um grande passo para a contabilidade. Um salto difícil para os contadores. Assim a categoria de contabilistas encara a necessidade urgente de adequação ao Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) no Brasil. “A tecnologia é boa e vai trazer benefícios para a categoria no longo prazo”, afirma Damaris Amaral, presidente do Sindicato dos Contabilistas do Rio de Janeiro (Sindicont-RJ). “Por outro lado, consideramos abusivas as multas por não cumprimento da lei. Deveria haver um período maior de adaptação às novas regras”.
Damaris explica que as multas podem chegar a 150% do valor do imposto devido por erros de informação no preenchimento do Sped Contábil, caso a Receita considere que houve má fé por parte da empresa. “Isso pode levar a empresa a paralisar atividades ou fechar as portas”, pontua. “Um simples atraso no envio do Sped Contábil, por exemplo, gera multa de R$ 5 mil. Mas e se a internet cair e impossibilitar o envio naquele dia?”
Com a exigência do Sped Contábil, do Fiscal e do EFD-PIS/Cofins para empresas tributadas pelo lucro real, os contabilistas correm contra o tempo para entregar os dados no prazo. A medida valerá também para as empresas tributadas por lucro presumido, entre elas as de prestação de serviço, a partir de janeiro. “Estão sendo feitas exigências sem prazo hábil para examinar se há condições de implementá-las, o que gera grande ansiedade”, critica Damaris
A saída é a preparação dos profissionais. “A mão de obra precisa se reciclar ou ficará de fora do mercado fiscal e contábil”, alerta Victor Domingos Galloro, presidente do Sindicont-SP. “Estamos organizando palestras e grupos de estudo para o debate e assimilação das mudanças provocadas pelas novas normas”, informa.
“Passamos por uma mudança de paradigma no controle fiscal das empresas”, diz Galloro. “Não só pelo Sped, mas pela adoção de normas contábeis de padrão internacional.” Isso valoriza o profissional da área, mas tem um preço: “O trabalho aumentou em 30% a 40% com a implantação do Sped Contábil e do Fiscal”, explica. “Mas a maioria das empresas, que também deveriam ajudar no processo, ainda está despreparada.”
Ao mesmo tempo em que prevê o aumento da arrecadação da Receita, com a melhoria da fiscalização possibilitada pelo Sped, o presidente do Sindicont-SP acredita que o custo das empresas deverá cair. “A adoção das novas ferramentas vai facilitar a organização e gestão das empresas. Com isso, o custo da administração fiscal e contábil deve diminuir”, prevê Galloro.
O Sped motivou também a reformulação dos cursos de ciências contábeis. “As diretrizes básicas do Ministério da Educação já exigem que haja o uso de laboratórios no ensino de contabilidade. Usamos as ferramentas utilizadas nas empresas, tanto para a emissão como para os exercícios de escrituração fiscal e contábil”, explica Raimundo Nonato, coordenador do curso no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – Ibmec Rio de Janeiro.
Para ele, o impacto do Sped está na forma de operar a informação. “Antes, era possível refazer os documentos em caso de erro. Hoje, com o sistema digital, a informação lançada é considerada inquestionável e sem volta”, afirma. “Então, é preciso estar apto a preparar as informações contábeis em tempo real e em acertar da primeira vez. E ainda não vejo esse nível de preocupação em grande parte dos profissionais”, lamenta ele. No IBMEC-RJ, os alunos têm 80 horas de aula nos laboratórios. “É lá que os alunos realmente vão descobrir como exercer a profissão”, diz Nonato.
Por Carlos Vasconcellos
Fonte: Valor Econômico – 28/10/11