Artigo escrito por Rosana Marques da Silva
Enquanto psicóloga, tenho uma certa preocupação com a atual forma de atuação do psicólogo organizacional e com o futuro de nossa profissão nesse âmbito. Percebo que não estamos sabendo lutar pelo nosso espaço nas organizações e que ele tem sido, cada vez mais, conquistado por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, como os administradores, economistas e sociólogos, entre outros. Acredito que este fato é decorrente da atuação do psicólogo organizacional ainda estar extremamente voltada ao recrutamento e seleção, à aplicação de testes psicológicos e à dinâmica de grupo, bem como do psicólogo não ter clareza do seu atual papel nas organizações.
O trabalho do psicólogo organizacional não pode ser individualizado e descontextualizado do ambiente onde a organização está inserida. Ele deve atuar como um profissional de Recursos Humanos e desenvolver atividades que supram as necessidades das organizações e as auxiliem a tornarem-se competitivas e a sobreviverem nesse mercado globalizado, onde o Capital Humano e a Qualidade Total são os pontos chaves para o sucesso organizacional. Nesse sentido, o papel do psicólogo organizacional é fundamental para alcançar níveis excelentes de Qualidade por toda a organização.
Em vista a estas questões, recentemente realizei uma pesquisa numa empresa situada em Florianópolis/SC e bastante conceituada pela excelência nos produtos e serviços oferecidos aos clientes. Meu objetivo foi analisar o perfil, o papel e as áreas de atuação dos profissionais de Recursos Humanos no Programa de Gestão da Qualidade Total.
Diante dos resultados, constatei que seus profissionais de Recursos Humanos apresentam papel essencial e estratégico no Programa de Gestão da Qualidade Total ISO 9000, participando ativamente do Planejamento à Manutenção de tal programa.
Quanto ao perfil, cada profissional possui formação universitária e pós-graduação. É preciso uma formação na área específica em que atuam, mas é o aperfeiçoamento pós-acadêmico desses profissionais que vai garantir sua sobrevivência no mercado de trabalho. São profissionais bastante atualizados com as tendências e transformações sócio-econômicas e culturais, lêem muito e estão sempre se qualificando, através de cursos, seminários, congressos e especializações.
Entretanto, afirmaram que o quê mais contribui para o seu sucesso na Gestão da Qualidade Total, são suas habilidades de saber se relacionar e se comunicar; ser pacientes e flexíveis, ao se deparar com pessoas tão diferentes umas das outras; ser éticos ao lidar com as inúmeras informações que recebem; ter habilidade para negociar e convencer as pessoas; ser humilde ao mostrar a maneira correta de agir e, principalmente, gostar de trabalhar com seres humanos.
No que se refere à forma de atuação desses profissionais, prestam consultoria interna aos colaboradores em suas funções. Vêem seu trabalho como de acompanhamento, orientação nas dificuldades surgidas; apontando as falhas no processo e sugerindo melhorias.
Entendem que suas atividades devem estar conectadas aos setores da empresa e encaram seu papel como o de “multiplicador”, de “captador” do potencial de seus colaboradores. Atuam no sentido de “facilitador” do processo da qualidade, desenvolvendo atividades que gerem a motivação dos colaboradores, pois são estes que vão garantir a qualidade por toda a empresa.
Esses profissionais desenvolvem atividades nas seguintes áreas de atuação:
Recrutamento: Trabalham em parceria com os gerentes de áreas. O psicólogo identifica os candidatos e o gerente de área escolhe quem fará parte de seu time de trabalho. O psicólogo orienta os gerentes em suas dificuldades e dúvidas, de forma a garantir que o perfil profissiográfico seja o mais indicado para determinada função e esteja relacionado aos objetivos e política da empresa e à cultura da qualidade.
Treinamento: Desenvolvem uma série de treinamentos, que são programados a partir do levantamento de necessidades da empresa. Consideram os treinamentos como educação, auxiliando na mudança de hábitos e na transmissão de conhecimentos e valores. Como meios de levantamento de necessidades, utilizam a administração de desempenho; as reclamações e sugestões de clientes internos e externos; o número de acidentes do trabalho; as solicitações das gerências para sanar alguma dificuldade em seu setor de trabalho, as auditorias e as transformações em nível mundial.
Auditorias: Para a manutenção dos níveis da qualidade por toda a empresa, seus profissionais desenvolvem um conjunto de atividades relacionadas às auditorias. São responsáveis pela escolha e formação/treinamento dos futuros auditores para a qualidade e pela realização das auditorias propriamente ditas. As auditorias são meios de detectar se as pessoas estão conscientes dos objetivos da qualidade, bem como é uma oportunidade para conversar e perceber as dificuldades enfrentadas pelos colaboradores no ambiente de trabalho.
Realizam trabalhos referentes à formação de líderes organizacionais; desenvolvimento de equipes de trabalho e treinamentos ao nível de gerência, de modo a transformar gerentes técnicos em gerentes de recursos humanos.
Todas as atividades realizadas por esses profissionais têm como metas atingir o envolvimento e comprometimento de todos os colaboradores com a cultura da qualidade, aumentar a satisfação dos clientes internos e externos e manter sua certificação ISO 9000.
Diante dos resultados de minha pesquisa, acredito que o psicólogo tem muito a contribuir para o sucesso dos Programas de Gestão da Qualidade Total nas organizações, porém é importante a reflexão de quê nosso papel mudou consideravelmente e que não podemos mais ficar parados e acomodados em nossa sala e esperar que as pessoas venham nos procurar e solicitar um serviço.
O papel do psicólogo organizacional é acompanhar as pessoas em seu local de trabalho, pois é aí que as dificuldades, as angústias, as frustrações, os desentendimentos e os conflitos aparecem. Para isso, é preciso que aperfeiçoe seus conhecimentos e habilidades e desenvolva atividades estratégicas, de pesquisa, planejamento e consultoria; deixando as rotineiras e burocráticas para setores específicos. Assim, terá mais tempo para conhecer as reais necessidades das pessoas com quem trabalha, oferecendo melhor atendimento aos seus clientes internos (colaboradores) e satisfazendo as demandas da organização.
O psicólogo organizacional precisa associar mais competências ao seu perfil profissional, de forma a tornar-se multidisciplinar e conhecer todas as atividades da Área de Recursos Humanos da empresa, estabelecendo uma relação de confiança e respeito, a fim de conquistar a todos. Também, deve auxiliar os demais profissionais de Recursos Humanos no sentido de aprimorar e implantar políticas de RH que estimulem a intuição e a criatividade, visando criar na empresa um ambiente intelectualmente favorável à geração e multiplicação de conhecimentos.
Diante destes aspectos, cabe-nos perguntar e refletir: O psicólogo tem clareza do seu atual papel nas organizações? Ele tem atuado como profissional de Recursos Humanos? Ele tem desenvolvido atividades na Gestão da Qualidade Total?
Concluindo, é indispensável ter em mente que se o psicólogo organizacional quiser conquistar e expandir seu espaço nas organizações, é preciso atuar como profissional de Recursos Humanos, ou seja, como um profissional mais aberto, informado, conhecedor do mercado, dos negócios da empresa e das reais necessidades de seus colaboradores. Deve empregar seus conhecimentos de psicologia como diferencial competitivo, sem se limitar a eles, pois enquanto profissional de Recursos Humanos tem que pensar em novas formas de fazer as coisas, em adquirir conhecimentos em outras áreas, em aperfeiçoar suas habilidades no trabalho com as pessoas e em agregar valor ao negócio e às atividades que desempenha.
Dados da autora:
Rosana Marques da Silva
Formada em Psicologia – CRP 12/01502
Pós-graduada em Engenharia de Produção e Sistemas, na área de Qualidade e Produtividade
sanamarques@uol.com.br
Bibliografia:
1- AIDAR, Marcelo M. Qualidade humana: as pessoas em primeiro lugar. São Paulo: Matese, 1994.
2- GIL, Antônio Carlos. Administração de rh: um aspecto profissional. São Paulo: Atlas, 1994.
3- ORLICKAS, Elizenda. Consultoria interna de recursos humanos. São Paulo: Makron Books, 1997.
4- SANCHES, Cristina. Nova função para o profissional de RH. RH em Síntese, São Paulo: Gestão e RH Editora, p.24-26, março/abril 1999.
5- PEREIRA, Heitor J. Novo papel político do profissional de RH. Revista de Negócios, Blumenau, p.73 – 77, janeiro/março 1992.
Fonte: www.rhportal.com.br