“Com a convergência para os IFRS (International Financial Reporting Standard – Padrões de Relatórios Financeiros Internacionais) e a aplicação do Sped (Sistema Público de Escrituração Digital), as empresas brasileiras têm de buscar informação, conhecimento e novas orientações para permanecer em dia com a Contabilidade e com as exigências tributárias. Essa é a recomendação do diretor da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) Alexsandro Broedel Lopes, em entrevista ao CRC SP Online. O professor titular de Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (Universidade de São Paulo), explica que, com a convergência às Normas Internacionais, a Contabilidade brasileira ruma para a maior harmonização dos padrões contábeis e de Auditoria.
Como se dá a atuação da CVM em relação aos Contabilistas?
A CVM tem alguns critérios ligados à atuação dos Contabilistas e dos Auditores. O papel mais visível é o de registro e acompanhamento para atividades de Auditoria Externa. A CVM também contribui muito para normatizar as funções das companhias abertas brasileiras. Além disso, a Comissão fiscaliza a qualidade das negociações contábeis, ou seja, além da Auditoria Externa, a CVM também averigua e pune eventuais desvios, podendo ir de simples advertências até a eventual republicação das demonstrações contábeis. A atuação do órgão é de extrema importância para toda a classe contábil.
A qualidade das demonstrações contábeis é relevante para a sociedade?
Sim, a qualidade das demonstrações contábeis é de fundamental importância para toda a sociedade, afinal essas demonstrações ajudam a tomada de decisões econômicas, de investimento, de mercado de capitais, de crédito, entre outros.
Quais são os reflexos do processo de adequação das Normas Brasileiras de Contabilidade aos padrões internacionais?
Em primeiro lugar, podemos destacar a qualidade dos balanços, que ficam efetivamente muito mais informativos. Com isso, as demonstrações contábeis adquirem maior qualidade, uma vez que contêm mais dados. Em segundo lugar, uma das características dos novos padrões é o abandono do predomínio da forma em busca da essência. A nova Contabilidade cria novas demandas e oportunidades. É um novo mundo para o Contador.
O que os profissionais devem fazer para assimilar as modificações?
Um aspecto de fundamental importância é a consciência de que estamos mudando. Não está havendo modificações somente nas normas contábeis. Com o advento da tecnologia, os profissionais mudaram a filosofia de trabalho e começaram a interpretar, de uma nova maneira, a serventia das demonstrações contábeis. Com isso, a demonstração contábil, que era basicamente um elemento para entender o Fisco, tem agora uma outra finalidade, que é a de entender o mercado de capitais e o investidor. A Contabilidade continua com sua função fiscal, mas passou a ter uma função de comunicação. Nesse sentido, o Contador não pode ter uma postura somente de registrador. O profissional precisa conhecer e se informar sobre a realidade econômica dos negócios. Para melhorar sua proatividade, necessita passar por um treinamento mais amplo e conhecer outras disciplinas, como economia e finanças, por exemplo. Enfim, é imprescindível que o Contabilista fique mais próximo da realidade econômica. Esse novo cenário traz inúmeros desafios, mas também muitas oportunidades.
Haverá dificuldades para concretizar essa adequação?
O processo de adequação das Normas de Contabilidade está sendo muito mais simples no Brasil do que em outros países por algumas razões. Um grupo muito grande de empresas brasileiras já fazia demonstrações contábeis seguindo as normas norte-americanas. Com isso, essas empresas já estavam habituadas a uma Contabilidade diferenciada. Além disso, as normas contábeis brasileiras não foram impostas. Elas passaram por um processo cambial, mas isso é um consenso natural da modernidade da Contabilidade. Para a total adequação, é preciso uma Contabilidade mais informativa. Por isso, esse desafio é bastante grande no Brasil, contudo menor que em outros países, como os da Europa Continental, por exemplo, que enfrentam muito mais resistência. No Brasil, não existe resistência às mudanças. O que existe são discussões técnicas referentes a determinado ponto, para entender melhor, para saber como pode ser feito.” (Fonte: CRC/SP em http://www.deleon.com.br/crcsp/2010/080/05_opiniao_a.htm)
Fonte: Blog do Roberto Dias Duarte