Evolução do código de barras amplia experiência de compras

Cerca de 6 bilhões de códigos de barras são lidos por dia no mundo, uma prática que garante a gestão e automação em praticamente todos os segmentos da indústria, dos alimentos aos medicamentos

Patricia Knebel

DOUGLAS LUCENA/DIVULGAÇÃO/JC

Tecnologia permite outras experiências, mais segurança de informações, diz Flávia

Aquelas listrinhas pretas, coladas nos produtos comprados nos supermercados ou nas etiquetas de roupas, sempre tiveram uma função muito clara – e importante – para a indústria e o varejo: ser o RG dos produtos, ajudando na automatização dos processos e aumentando o nível de gestão do que entra e sai dos estoques. Mas a tecnologia evoluiu e o código de barras – que em 2013 alcançou a marca de três décadas de uso no Brasil – cresceu e apareceu. “É uma tecnologia consolidada, de baixo custo, com padrão internacional e, como as exigências por rastreabilidade estão aumentando, continua em constante evolução”, comenta o presidente da GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação, João Carlos de Oliveira.

O modelo convencional do código de barras está presente em 97% dos produtos e identifica, basicamente, de que mercadoria se trata. Já nas novas gerações, mais sofisticadas, é possível acrescentar informações que contribuem para o aumento da agilidade e segurança do processo, além de funcionar como uma espécie de embalagem estendida. Isso tem acontecido em segmentos como os de saúde, têxtil, supermercados e agricultura. Graças a um sistema bem ajustado, é possível saber se ocorreu contaminação química, biológica ou perda de qualidade durante o processo e retirar rapidamente o produto de circulação.

O DataBar, por exemplo, permite a colocação da descrição do produto, do prazo de validade e até mesmo de aspectos nutricionais. “Isso traz mais segurança aos consumidores, pois os supermercados podem desenvolver um sistema que detecte se o produto está vencido e bloqueie sua venda no caixa”, exemplifica a assessora de soluções de negócios, marketing e relações institucionais da GS1 Brasil, Flávia Ponte Bandeira Costa.

A perspectiva da entidade é que, em cinco anos, o DataBar esteja presente na quase totalidade dos produtos que usam o código de barras. A GS1 é a organização sem fins lucrativos responsável pelo padrão global de identificação de produtos e serviços, o que inclui o código de barras e radiofrequência (EPC/Rfid) e comunicação (EDI e GDSN) na cadeia de suprimentos.

Além de contribuir para aumentar a inteligência da automatização das empresas, essa evolução do código de barras trouxe a oportunidade de criação de novas aplicações. Em 2012, a Hellmann’s, marca de maionese, deu um exemplo de criatividade ao criar um aplicativo instalado nos caixas de supermercados que reconhecia, através do código de barras, os produtos que estavam sendo comprados junto com a maionese. A partir disso, gerava automaticamente uma receita de algum prato que poderia ser criado. Eram 5 mil possibilidades no total.

Essa ação faz parte de uma estratégia da marca que, desde 2009, tem realizado um amplo trabalho para estimular o uso do produto em novos pratos, e não apenas no sanduíche e na salada de batatas. “A nossa idéia foi mostrar, de uma forma muito simples aos consumidores, que eles poderiam criar muitas novas receitas usando a maionese e outros produtos da sua cesta de compras”, explica o gerente de marketing de Hellmann’s, Fernando Kahane. Segundo ele, a tecnologia permitiu usar o código de barras para criar uma ação personalizada, pois cada cliente tinha uma receita única com base nos produtos que estava comprando.

Se o exercício for o de olhar ainda mais para o futuro, a grande tecnologia capaz de elevar o patamar de inteligência em rastreabilidade responde pelo nome de Radio Frequency Identification (Rfid).

Grandes fabricantes, como a Samsung, já estão trabalhando com essas aplicações. Um exemplo é o projeto de usar a tag de Rfid em geladeiras – produto que deve chegar ao mercado em 2014. Assim, se o consumidor estiver no supermercado, pode conectar seu celular 3G com o eletrodoméstico e saber quais os produtos que estão em falta na geladeira.

O presidente da GS1 Brasil destaca a importância da evolução, especialmente porque o País ainda está abaixo da média das nações mais desenvolvidas na adoção de novas tecnologias nessa área de automação. “Ao contrário do código de barras, que está consolidado, essas novas tecnologias ainda são incipientes, mas são parte da evolução que estamos vendo”, diz.

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Embalagem estendida agrega novas possibilidades

Cerca de 6 bilhões de códigos de barras são lidos por dia no mundo, uma realidade que permite às empresas saber quantos produtos estão no estoque e quais os que têm mais rotatividade nas lojas. Isso sem falar na redução de erros de digitação, uma vez que as informações são lidas diretamente por um scanner.

Mas, dentro do processo de transformação da tecnologia, o código de barras tem assumido novos papéis, grande parte deles ligada à ampliação da experiência de compras dos consumidores. A assessora de soluções de negócios marketing e relações institucionais da GS1 Brasil, Flávia Ponte Bandeira Costa, comenta que essas novas aplicações são possíveis na medida em que exista uma junção entre uma etiqueta de código mais evoluída com um sistema que consegue entender de forma mais inteligente o que está lendo.

É o caso do DataBar, que oferece dados que tornaram possível a rastreabilidade, e dos códigos bidimensionais, que fazem a leitura pelo celular e também garantem o acesso a mais informações sobre produtos. “O código de barras não está mais restrito à função de identificação. Hoje esses sistemas permitem outras experiências, mais segurança e compartilhamento de informações”, observa.

As pessoas podem ser direcionadas para o site do fabricante ou para as redes sociais e, nesses ambientes, saberem o que os outros consumidores estão achando de determinado produto. Dentro dessa lógica, cada fabricante é responsável por acrescentar as informações que deseja.

Tecnologia garante gestão em meio a fluxo hospitalar

Na farmácia do Hospital Israelita Albert Einstein, a automação é garantia de mais segurança na separação dos medicamentos que serão ministrados na beira do leito aos pacientes. Cerca de 600 mil unidades de comprimidos ou ampolas circulam todos os meses entre as diversas alas de um dos mais importantes hospitais do País.

Se não fosse a automatização, seria complicado trabalhar, admite o responsável pela automação da área de farmácia do Albert Einstein, Nilson Gonçalves Malta. “O código de barras, associado a um software especializado, nos permite ter mais agilidade para localizar os itens, administrar o estoque e saber quais os pacientes que já receberam a medicação”, relata.

Pela regulamentação atual, é obrigatório que o código de barras para medicamentos tenha a informação que revele o que é o produto, ou seja, uma aspirina de uma caixa de 100 miligramas. O Einstein decidiu avançar e, há cerca de oito anos, iniciou o desenvolvimento com alguns parceiros do uso de um sistema de identificação bidimensional, em uma iniciativa que teve o apoio da GS1 Brasil.

O código de barras DataMatrix tem tamanho reduzido e, assim, se adapta às menores embalagens e comporta todas as informações necessárias para ter total controle da trajetória de um medicamento, do laboratório farmacêutico à administração ao paciente.

O resultado é que hoje cerca de sete indústrias e hospitais já utilizam um código com lote e validade. Atualmente, em números absolutos, cerca de 3% dos itens em estoque na farmácia do Albert Einstein possuem essas informações adicionais, que permitem a rastreabilidade. “Só assim é possível saber com precisão a qualidade do produto e, conseqüentemente, a rápida remoção em caso de validade vencida ou da descoberta de algum desvio de qualidade que tenha sido notificado pela própria indústria ou pelo governo”, observa Malta. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 20% dos medicamentos vendidos no País são falsos.

Algumas evoluções importantes vêm por aí. Dentro da área de rastreabilidade, a Anvisa analisa o projeto de passar a exigir novas informações no código de barras, como o número de série dos medicamentos. Isso permitirá saber a origem do produto, ou seja, se não é falsificado ou originário de roubo de carga. Isso deve aumentar a segurança de toda cadeia, inclusive do usuário final, que saberá se está recebendo produtos com garantia de origem.

Prati-Donaduzzi investe em medicamentos fracionados

Para os hospitais, receber o código de barras com nome do produto, dose, lote e validade na chamada caixa primária, ou seja, em cada ampola ou blister, é um avanço e tanto. “Uma drogaria movimenta os medicamentos em caixas, mas, no caso do hospital, precisamos que esses dados estejam em cada unidade do remédio para facilitar a movimentação interna”, explica o responsável pela automação da área de Farmácia do Hospital Israelita Albert Einstein, Nilson Gonçalves Malta.

O Laboratório Prati-Donaduzzi saiu na frente e hoje é a única indústria de medicamentos nacional a colocar o DataMatrix em doses individualizadas de comprimidos. O projeto foi para a rua neste ano e já está em uso em alguns hospitais, como no próprio Albert Einstein, em São Paulo, e o Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. “Percebemos que existia uma demanda ainda não atendida pela indústria. Os hospitais precisavam comprar as caixas e fracionar em doses individualizadas internamente, o que acabava exigindo um grande trabalho interno”, comenta o diretor comercial hospitalar da fabricante, Walter Batista.

A vantagem desse código, que oferece informações como registro do produto, lote e validade, é a rastreabilidade de todo o processo. O enfermeiro lê a pulseira do paciente e acessa a lista de medicamentos que foram dispensados no prontuário médico. “Isso garante a administração correta da medicação, reduzindo os riscos de erros”, acrescenta Batista. O Prati-Donaduzzi possui 26 medicamentos para hospitais certificados pela GS1 Brasil e, portanto, com autorização para serem comercializados fracionados, com o Datamatrix, para hospitais. Isso representa cerca de 25% do portfólio da empresa para hospitais. O gestor admite que, em termos de volume de unidades, ainda é pouco, mas ressalta que esse é um projeto para médio e longo prazo. “Estamos estimulando novos hospitais a conhecerem essa solução e aderirem”, observa.

Radiofrequência ainda é cara, mas aprimora rastreabilidade

Considerado uma tecnologia do futuro, mas já com várias aplicações no presente, o Rfid (sigla em inglês para radiofrequência) pode trazer grandes vantagens para a rastreabilidade da indústria. Na comparação com o código de barras, um dos principais benefícios  é o fato de permitir a captura de diversos códigos ao mesmo tempo, e não um a um. Além disso, não é necessário aproximar o leitor a 2 cm ou 3 cm de cada produto.

Um profissional que precise fazer um inventário da empresa, por exemplo, aponta a pistola e comunica para o computador capturar todas as tags que encontrar. Essa tecnologia tem larga cobertura, podendo chegar de 10 metros a 50 metros. “Todos os produtos que estiverem com a tag e dentro do raio de cobertura serão lidos. Isso permite um ganho de tempo e confiabilidade”, explica Rodrigo Righi, doutor em Ciência da Computação e professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Unisinos.

Isso é possível porque cada etiqueta possui um código eletrônico de produto, cuja sigla em inglês é EPC. Nesse dispositivo, são inseridas diversas informações, como modelo, valor e validade do produto. Mas, com essa vantagem, por que o Rfid ainda não está disseminado? A resposta é simples: o alto custo. A tag custa cerca de R$ 0,40. Adicionar esse valor em um pacote de feijão, por exemplo, que custa R$ 1,00, acaba impactando muito o preço final.

E é por isso mesmo que o uso está começando por produtos de mais alto valor agregado, como no segmento têxtil, em que uma etiqueta de R$ 0,40 pode ser colocada em uma calça jeans sem que interfira na decisão de compra do produto pelo consumidor.Righi acredita que, com o tempo, essa tecnologia vai se massificar e, conseqüentemente, baratear. “Existem muitas linhas de pesquisas que apontam o Rfid como a tecnologia do futuro”, diz. O especialista acaba de voltar de uma temporada na Coréia do Sul, onde fez o seu pós-doutorado na Korean Advanced Institute of Science and Technology (Kaist), uma das instituições mais respeitadas em tecnologia do mundo.

Lá, participou de estudos sobre a internet das coisas com a idéia de criar padronizações para gerenciar grandes quantidades de informações que chegam através de sensores instalados nos mais diversos equipamentos. A radiofrequência é importante nesse processo. “O uso do RFID vai além do que vemos hoje com o código de barras. Uma das grandes vantagens é a possibilidade de se trabalhar com as cadeias de produção, acompanhando cada evento de uma empresa, como um produto que sai ou entra na loja”, diz. Isso sem falar na possibilidade de fazer um monitoramento de toda a vida do produto, por onde ele passou. “É possível saber se uma calça jeans é falsificada ou se o cliente está saindo da loja com uma peça que não foi paga”, explica.

Um dos principais desafios para que essa evolução seja massiva são os custos de implantação. Isso porque é preciso ter novos equipamentos, como hardware para a leitura do novo padrão e software. Mas o valor que deve ser agregado deve superar isso com o tempo. Para a assessora de soluções de negócios marketing e relações institucionais da GS1 Brasil, Flávia Ponte Bandeira Costa, as mesmas informações que são gravadas nos códigos de barras podem ser gravadas em um chip. E, de fato, com algumas vantagens, já que aumenta a visibilidade de todos os processos, como se serializasse peça a peça.

Essas novas tecnologias não devem fazer os códigos de barras desaparecerem. “Vamos ter uma convivência das diversas tecnologias. Dependendo do que a empresa precisar identificar, optará por uma ou outra”, acredita.

Fonte: Jornal do Comércio via FENACON – 07/10/13

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