Estoques elevados e retração do consumidor diante da carestia e do elevado nível de endividamento deverão levar o varejo a registrar, em 2014, o pior resultado em nove anos. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), nem mesmo as datas especiais, como o Dia dos Pais e o Natal, que sempre impulsionam o faturamento das lojas, mudará essa perspectiva. Descontada a inflação, o crescimento do real do setor ante 2013 deverá ser de apenas 4%.
“As datas comemorativas tendem a acompanhar o comércio, que vem mostrando sinais de desaceleração desde 2011”, explicou o economista Fábio Bentes, da CNC. Ele lembra que a inflação continua acima do teto da meta definida pelo governo, de 6,5%, e os juros subiram bastante, minando o apetite de compra da população. Tanto a Páscoa quanto o Dia das Mães e Dia dos Namorados decepcionaram e não será diferente com o Dia dos Pais, cujas vendas devem avançar 4,3%, no avanço mais fraco desde 2004.
Com margens de lucro estreitas, as empresas têm prolongado promoções e apostado em liquidações com desconto acima de 50% para ganhar no volume de vendas e, assim, impedir um ano ainda mais desastroso. Em razão das próprias mudanças de hábitos do brasileiro, que cada vez busca mais alternativas para driblar os preços altos, o comércio já começou a rever posições de investimento para o próximo ano, alerta o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pelizzarro Júnior. “Não acredito que a economia voltará a se aquecer a curto prazo. Os problemas conjunturais devem permanecer ao longo do semestre e o consumidor vai continuar cauteloso”, disse.
O setor acredita que nem mesmo a liberação de R$ 45 bilhões aos bancos, autorizada pelo governo, dever reanimar os financiamentos. A medida tomada pelo Banco Central é avaliada com ressalva pelo presidente da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF), Cleber Pires. “Não há como termos grandes perspectivas se não houver redução das taxas de juros. Trabalhadores da iniciativa privada e até servidores públicos estão com o orçamento comprometido”, diz.
Para o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Luís Augusto Ildefonso da Silva, a renovação dos estoques está acanhada. “Apesar de a reposição de mercadorias ter sido menor, em razão da fraqueza de vendas durante a Copa, os estoques ainda estão altos”, afirmou.
Pessimismo dos lojistas
O ritmo mais fraco da economia continua tendo impactos sérios no comércio. O Índice de Confiança de Serviços (ICS), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu 0,6% de junho a julho deste ano, a sétima queda seguida. Este é o pior resultado desde abril de 2009. O Índice de Confiança do Comércio (Icom) também segue em baixa. No trimestre encerrado em julho, o indicador recuou 6,3% em relação ao mesmo período de 2013.
Desconfiança do público
O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), da Confederação Nacional da Indústria, registrou melhora de 3% em julho na comparação com junho. Entretanto, o economista da entidade Marcelo Azevedo alertou para o fato de a confiança da população ainda estar baixa. “A tendência de queda tem se mostrado bastante forte. Trata-se de um avanço significativo, mas excluídos os valores do primeiros semestre, o índice é o menor desde março de 2009”, sublinhou.
Fonte: www.diariodepernambuco.com.br – 05/08/14