Brasil manterá rigor com empresas

Brasil manterá rigor com empresas que informam incorretamente a redução do valor recuperável de ativos

Entre as conseqüências imediatas: companhias poderão ter seus balanços não auditados e a queda das ações na Bolsa de Valores. Legalmente, quem estiver fora das especificações terá prazo para realizar os ajustes necessários, mas deixar para a última hora pode ser arriscado

Ao longo dos anos, as grandes companhias de vários países já sofreram o impairment em algum momento de sua vida. A palavra impairment, em inglês, significa deterioração, depreciação. O termo é usado em contabilidade para tratar da “redução do valor recuperável de ativos”.

A partir deste ano, de acordo com determinação da Comissão de Valores Imobiliários, as empresas estão sendo obrigadas a avaliar a redução do valor recuperável de bens, e que geram resultados, antes de contabilizá-los no balanço. Toda vez que a projeção de geração de caixa registrar um valor inferior ao montante pelo qual o ativo está registrado, a companhia terá de fazer a baixa contábil desta diferença.

Este ajuste é realizado a partir de uma provisão na demonstração de resultados ou no balanço patrimonial, quando se tratar de ativo já reavaliado. Este procedimento segue as regras contábeis internacionais baseadas no padrão IFRS, que deverá unificar o modo como as empresas realizam e apresentar os resultados de sua contabilidade em todo o mundo.

De acordo com Lourival Vieira, diretor da SISPRO, companhia provedora de soluções e serviços para a gestão financeira e de Patrimônio, o pronunciamento deve ser feito para impedir que as empresas apresentem em seus balanços os ativos registrados por um valor que não irá se concretizar no futuro. “Para se chegar ao valor correto a ser informado é necessário realizar testes de impairment. Este procedimento permite que as empresas possam seguir correta e adequadamente as determinações da Comissão de Valores Mobiliários e, assim, atender aos padrões IRFS”, explica.

Vieira também destaca outros números relevantes: na Europa, das 8 mil e 500 maiores empresas, mais de 4 mil, ou seja, 47% já sofreu em algum momento de sua vida uma redução do valor recuperável de ativos, o chamado impairment. Nos Estados Unidos, das 13 mil maiores companhias, 25% já registram este processo. “Isto significa que as empresas brasileiras não são diferentes. O que muda é a forma como a legislação brasileira trata do tema, e com maior rigor, o que deverá colocar as empresas que operam no país a se atentarem com maior precisão para o que determina a legislação”, afirma.

A primeira conseqüência prática provocada pela imprecisão das informações sobre o valor recuperável dos ativos vem logo no primeiro dia após a publicação do balanço: mesmo que a empresa tenha registrado significativo lucro, suas ações podem cair substancialmente no dia seguinte porque a primeira coisa que os investidores fazem antes de realizarem suas operações na Bolsa é analisar com detalhes o balanço das empresas nas quais pretendem investir. “Isto aconteceu recentemente com algumas das maiores companhias brasileiras, que registram forte queda de suas ações e que estão tendo que corrigir seus balanços”, comenta Vieira.

Deixar para a última hora é perigoso

Pela lei, o impairment e deve ser informado uma vez por ano. Mas a melhor coisa a fazer é não deixar para a última hora porque, ao fazer a cada trimestre, a empresa poderá fazer os ajustes e correções necessários sem perder o prazo.

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