A internet como bode expiatório

O mês de maio de 2009 entra para a história com duas importantes declarações envolvendo a internet. A primeira, e a mais impactante no meu ponto de vista, foi a do presidente da Sony Pictures Entertainment, Michael Lynton, que afirmou não ver nada de bom na internet, e ainda insinuou que os internautas são folgados e trapaceiros.  A outra, um tanto hilária, foi a do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que disse que os jovens deveriam largar a internet e voltar para a televisão e o rádio.

O que estas pessoas e suas declarações têm em incomum, e o que podemos aprender com isso?

Percebo que em ambos os casos há um desalinhamento entre o que elas pensam, e falam em suas declarações, e o mundo em que vivem. Na verdade, elas se mostram confusas porque percebem que as fórmulas do passado não servem mais, mas preferem ignorar os fatos ao diminuir a importância do momento que estamos vivendo com declarações sem sentido.

Concordo que os desafios atuais são enormes, mas o que elas não entenderam é que deveriam fazer exatamente o contrário: aprofundar e explorar os efeitos que esses novos ambientes estão criando para poder inovar.

Sendo assim, Michael Lynton e sua equipe deveriam analisar os efeitos que estão ocorrendo com perguntas do tipo: por que as pessoas não querem pagar por isso? Que tipo de conteúdo e entretenimento elas procuram e estão dispostas a pagar? Quais são as necessidades dos anunciantes e como criar uma nova cadeia de valor entre eles, nós e os consumidores? E assim, talvez, entenderiam que na era da internet é preciso envolver as pessoas como parte da estratégia, ao invés de apenas lhes fornecer coisas como objeto de consumo ou entretenimento. E ainda, que os produtos estão se convertendo cada vez mais em serviços e a participação das pessoas neste processo é fundamental.

Porém, ao insinuar que os internautas são folgados e trapaceiros, Lynton faz justamente o inverso: distancia o público e perde a oportunidade de inovar e criar valor para o seu mercado. Por outro lado, a declaração do ministro Hélio Costa me faz imaginar, hipoteticamente, alguém que pede às pessoas que deixem de lado seus carros, e voltem a andar de carroças, apenas porque tem cavalo demais por aí e temos que dar alguma utilidade a eles.

Mcluhan dizia que os efeitos vêm antes das causas em todas as situações, e eu concordo. Ele alertava para o fato de que se os efeitos vêm primeiro, o estudo da ação do que está acontecendo deve começar com a análise dos efeitos e não com uma busca teórica das causas. Isso porque as causas nada mais são do que explicações e conceitos apresentados para os efeitos, e só fazem sentido depois que as mudanças se efetivam.

O fato é que perder tempo com as causas no dinâmico mundo em que vivemos pode ser perigoso. Se quisermos nos antecipar, e realmente inovar em nossos mercados, devemos deixar as causas de lado e olhar sem preconceito para os efeitos. Ao fazermos isso, podemos encontrar mais rapidamente as respostas para as novas demandas que estão surgindo.

Sem dúvida, precisamos deixar nossos interesses mesquinhos, ao abrir mão do status de uma categoria, para conseguir avançar e encontrar novos sentidos para os negócios. E quer saber? Quanto mais rápido melhor.

Fonte: Raquel Costa (http://hsm.updateordie.com/author/raquelcosta/)
Este texto foi publicado, originalmente, no Blog da HSM.

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